sábado, 1 de março de 2008

Epifania

Autor: Luiz Galdino de Santana. (Galdino)
registro: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/


Quisera
vencer meus dias assim:

Peito pro alto... fitando letras...

fora o Sol a pino

Notas zumbindo de uma guitarra maltratada

Entre gemidos recém-nascidos

E os pios dos pardaizinhos cantando à-toa

Ninguém que os perceba.

E essa desídia de ser

Essa “desidéia”

Essa “desfigura”

Essa “desforma” do ter

Bordadas pela mácula transparente que os cílios sentem sem saber.


Almejar.

Mais que desejar: Venerar.

A formiguinha diante do pirulito caído...

Aquilo que não se compra. Não se conquista.

Dádiva; suspiro de olhos-rasos-ocos perdidos.

Conectado ali estarei, mesmo no segundo último

Antes de tornar-me uma vaga idéia em quem eu quis

A essência reabsorvida àquele vácuo

Entre um mero existir e o infinito nada

Serei, assim, um devanear encantado, uma rima,

Uma poesia.

Sua saudade diluída na balbúrdia de si mesma.


Vida sem riscos: melhor fosse meu avô na tumba

E se tuba não tivera o pobre “bebum”?

Antes terra na cara a engolir esse antiestilo de viver.

“O”: essa letra é a eternidade.
Qualquer uma:

Letra. Eternidade.

Cada perenidade não é mais que um piscar.

Entretanto, vou processar celebridades por tentarem me invadir com sua privacidade.

Vou fazer a lista dos cem mais miseráveis da revistaFomes

Vou por no meu perfil da Internet as minhas mais loucas taras

Vou revelar qual é o nome que me tira do ar.


Refeição matutina: uma xícara de passado,

Dois futuros estalados e a musa, despudoradamente, nua sobre a mesa.

A mesa do presente devidamente forrada com a toalhinha da ambigüidade-caos.

que todos se enganaram: na verdade é o “agoraquem não existe!

Sim, “QUEM”!

Ele nasce morto.

Acéfalo.

Sem perspectiva nem história.

São as mãos num córrego por entre pés ladeados (passado e futuro) que contam.

Somos a passagem, as águas frias mornas quentes!

Pr'além do tempo, dos pés, do córrego, das mãos, da história, da morte, da vida...

Nunca nos bastaremos: estamos fora do alcance da mesura mais precisa.

Visto que sou , irrito as narinas alérgicas de deus

E deus é sumidade adivinhada pelo sábio selvagem atormentado sob trovão.

Tenha .

Acordo um de verdade (selvagem? deus?) com meu cetro melancólico

Aconchego de bicho domesticado e de estimação

Visto-me daquilo do que foge e molha de pavor o cínico:

Qualquer afeto mais tolo.

que “é carência, gostar”.

Também o é, carência, engolir-cuspir atmosfera.

Não será?

Vis-à-vis, eu pra tu, que não pára em , que tem rude movimento,

Zanze assim - olhos sem face. Face sem olhar.

Lágrima caçando autor de si. Autor calçando um vão no firmamento -

Suplico: ombros à frieza sombria, sóbria e coerente:

Ponga nas horas. Ri dos segundos atarefados.

Viça: sê mais um apaixonado ante existir.

Epifania.

12 comentários:

Heloísa Pinheiro disse...

Agridoce!
Dizem que a tequila também o é.

Unknown disse...

Galdino!!!!!
Demais de demais!!!
"Roubei emprestado" e coloquei no meu space também!!!!
http://brushabrazil.spaces.live.com

Queremos mais!!!!!

Trilhares de beijinhos...

Fran Carneiro disse...

Palavras lindas, colocadas da melhor forma possível!
Lindo, Galdino! Lindo demais!

beijão!

João Neto disse...

Ah, acredito que qualquer amotoado de palavras colocadas aqui jamais chegarão perto de tocar em você como boa ou má análise deste poema. Quando se escreve, tão bem assim, os elogíos vêm, mas mesmo assim a gente ainda se sente meio distante do ideal, que seria ele, um elogio vindo da inspiração. Mas apesar de não me achar o melhor cara pra expressar coisas a esse nível, insisto a me juntar aos outros e dizer, com todo o poder que houver, que este poema é: perfeito.

Forte abraço!

Suhelen disse...

mácula transparente que os cílios sentem sem saber.

só isso traduz o que o coração sentiu depois dos olhos terem te lido nesta manhã de domingo.

lindo, galdino! parabéns!
um abração destas bandas do maranhão.

Bédi disse...

Puxa, Galdino!!!
"Epifania" é embriagante!!!Eu não bebo mas a sensação deve ser a mesma que tive após ler seu poema
Demais!!!
Parabéns, novamente!!!

Anônimo disse...

(sem comentários) Palavras faltam...
AMO!!!

Cristina Casagrande disse...

"Vou fazer a lista dos cem mais miseráveis da revista “Fomes”"

Ótemo.

Anônimo disse...

Parabéns !!
Belo...

Nathalia disse...

Não sei se entendi de menos a ponto de não saber explicar o que li; ou se entendi demais a ponto de não saber explicar o que senti.

Experiência maravilhosa.

Unknown disse...

Brilhante!

Anônimo disse...

Agora também estou no universo blogástico!

O meu ainda está em construção, coisas do meu professor.

Estou aguardando o próximo post!

Um beijo!